Karola Szilard Gábor_Auto Retrato

Karola Szilard Gábor

Sua vida e sua obra

“Vi, quando criança, as carruagens e as carroças puxadas a cavalos e bois, a estrada de ferro com trem a vapor, os primeiros automóveis, os primeiros pequenos e, mais tarde, os modernos aviões a jato, duas guerras mundiais. Vivi em diferentes países: Hungria, Áustria e Brasil. Vi nascer o cinema, o rádio, a televisão e o homem pousar na Lua.”

Karola Szilard Gábor


Karola Gabor nasceu aos 3 de junho de 1901 em Kaposvar , Hungria. Menina frágil, sobreviveu à escarlatina e vivia adoentada. Isso a deixou por um tempo afastada da escola. Foi então que descobriu o desenho e fez das Artes a sua prioridade. Mas foi somente aos 17 anos de idade, um pouco antes de terminada a Primeira Guerra Mundial, que tentou a sua sorte mandando desenhos para a Escola de Artesanato de Budapest. Foi recusada.

Seu pai Mathyas Gabor, juiz de direito de Kaposvar, conheceu Rippl Ronai Joszef, o pintor mais famoso da Hungria, com quem falou sobre o possível talento de Karola. Ouvia a conversa outro pintor mais jovem, de 23 anos, que se ofereceu para dar algumas instruções.

Pediu ao juiz para trazer alguns trabalhos da filha. Apesar dos defeitos, viu que valeria a pena dar aulas para Karola. No dia seguinte, as aulas começavam na casa dos Gábor. Ele era Aurél Benárth e teria seu talento reconhecido anos depois. “Comece um desenho como um todo, nunca uma parte”, foram suas primeiras instruções.

Em 1921, Aurél Bernath avisou que iria fazer uma exposição em Viena e não voltaria à Hungria. Sugeriu aos Gabor que Karola fosse para Viena para estudar e conhecer museus. No ano seguinte, os pais consentiram e ela foi para a Áustria. Bernárth arranjou acomodações na casa de uma família alemã e a esperava na estação de trem. Com ele, estava um amigo, Adalberto Szilard, que terminava seus estudos em Engenharia e Arquitetura, que havia começado em Budapest.

Karola logo arranjou trabalho no mesmo estúdio onde Bernárth esculpia cabos de guarda-chuva, e tinha as tardes livres para visitar os museus de Viena. Adalberto, sempre por perto, oferecia-se para acompanhá-la. O relacionamento se aprofundou e culminou com o casamento na Igreja Metodista de Budapest, em 1922.

Um início de vida difícil, construção de uma pequena casa própria em Viena e a necessária ajuda dos pais. Em 1924, nasceu Agnes, em Budapest, e em 1925, João em Viena.

Adalberto tinha dificuldades para conseguir trabalho na Áustria em crise.

Em 1926, a família Szilard emigraria para o Brasil. Karolina (1926) e Pedro(1931) nasceram no Rio de Janeiro.

Os trabalhos artísticos de Karola estavam paralisados, porém nunca esquecidos. Com os filhos crescidos, o desejo de pintar recomeçou. Inscreveu-se em um curso de xilogravuras, uma nova motivação. E os quadros a óleo começaram a aparecer nos trabalhos na favela da escadinha da Santa Clara, onde ela se comunicava bem com a comunidade local. Quadros magníficos, como os das lavadeiras e os dos meninos do morro. Um deles, o primeiro, foi laureado no Salão Nacional de Belas Artes. E não parou por aí: foi conhecer e pintar no distante Caju, uma colônia de pescadores que a encantou. A longa distancia não a desanimou, e as famílias locais guardavam suas telas e seus pertences. Os trabalhos resultaram muito bons.

As antigas cidades de Minas Gerais foram as primeiras a serem visitadas fora do Rio. Um mês distante de casa, da família, vendo as obras do Aleijadinho em Ouro Preto e Congonhas do Campo. Karola estava dentro do que mais gostava de fazer, muito feliz com o sucesso do seu trabalho.

Em 1945, foi conhecer Salvador, na Bahia. Seus trabalhos no Pelourinho, no Mercado, na Feira dos Meninos, mostram o carinho e o apego que teve com a capital baiana. Destas obras, duas gravuras estão no acervo do Museu do Estado em Salvador.

Duas exposições no início de sua carreira: a primeira na Galeria Askanazy, em 1946, e a segunda, no Instituto dos Arquitetos do Brasil, tiveram muito sucesso. Os prêmios no Salão Nacional de Belas Artes, duas medalhas de prata em xilogravuras e uma de bronze em pintura foram muito elogiadas pelos críticos de arte, sendo Antônio Bento o mais conhecido entre eles. Participou da Primeira Bienal de São Paulo em 1950 tendo sido premiada.

A sua última exposição retrospectiva foi realizada em outubro de 1979, patrocinada por amigos, na Galeria Delfin, em Copacabana. Um sucesso extraordinário, que a deixou muito feliz, com muitas das suas melhores pinturas adquiridas por amigos. A velhice tinha chegado. Na sua varanda da casa da Tijuca, desenhava todos os dias a mesma paineira, a mesma paisagem, como lembrança indelével de sua marcante passagem pelo mundo artístico.

Faleceu em 30 de abril de 1992.


*Resumo extraído do Livro de Memórias de Karola com a colaboração de Pedro Szilard, Hélida Szilard, Andrea Szilard, Daniela Szilard e Vera Milena Dusek